sexta-feira, 8 de agosto de 2008

ESCUTEMOS, POIS, A BANDA

Começo por um assunto engraçado. Eu caminhava pela rua quando, de súbito, em minha frente um garotinho levou um tropicão. Certamente, o garotinho não contava mais de dez anos. A garotinha que o acompanhava (muito provavelmente sua irmã) desatou uma risada das mais gostosas.

O garotinho não machucou, pelo contrário, logo saiu rindo junto com sua suposta irmã e foram embora degustando o acontecido!

Enquanto isso, eu passava no meio deles e não pude deixar de repará-los. A risada alegre e pura foi tão espontânea que não teve jeito, contagiou-me! Comecei a rir de canto de boca e passei por eles enquanto lembrava de quando eu costumava rir daquele jeito.

Aos olhos dos meus leitores, tal fato pode mesmo parecer apenas tolice, mas mesmo assim resolvi escrever sobre o acontecido.

Na verdade, escrevi esta crônica para mim mesmo, para não me esquecer de dar boas risadas como aqueles garotos. Esta crônica cabe-me antes como uma advertência, um conselho inominado sobre algo simples, mas esquecido por mim.

Não sei ao certo os motivos, talvez sejam os problemas jurídicos com os quais meus estudos me levaram a lidar diariamente; talvez sejam ainda as formalidades dos ritos processuais. Seja como for, há tempos minha vida se encerra em papéis e computadores e não creio serem estes objetos muito engraçados, dignos de boas risadas espontâneas.

Portanto, talvez seja daí onde surge meu espanto diante de uma simples risada gostosa, e este espanto é algo preocupante, um termômetro contando já altos graus.

A vida não deveria se espantar com certas simplicidades e alegrias como esta, desprovidas que são de malícias. Elas não deveriam apresentar-se como tão raras.

Antes seria melhor fazer dos fatos não mais que uma simples passagem de uma alegre banda que chega cantando e tocando. Às vezes ela até passa, como passaram aqueles garotinhos, mas a seriedade dos problemas tende a cegar-me os olhares.

Eis aí a esfinge dos sérios: transformar os dias e sua gravidade na cadência de uma banda que passa!

Deixemos, pois, a banda fazer-se ouvir e passar. Não é mais certo senão entusiasmar-se com ela. É um santo remédio essa banda, suas músicas, sua alegria de ontem e hoje.

Escutemos, pois, a banda, ela resolve por si só alguns problemas sem solução. É verdade, acreditemos em sua homeopatia: funciona!

O remédio é santo, o Grande Chico já o disse. E não é que até mesmo o homem sério que contava dinheiro parou para vê-la, ouvi-la e dar-lhe passagem?

Rafael Guerreiro

Um comentário:

Lívia Inácio disse...

"Eis aí a esfinge dos sérios: transformar os dias e sua gravidade na cadência de uma banda que passa!"

\o/ Aplausos! \o/