terça-feira, 5 de abril de 2011

Para Ti, garota!


Tu, garota, que estás aí do outro lado, de olhos negros perdidos em mar aberto, contemplativa, esperando por alguém que lhe seduza não só o corpo, mas também os sonhos.
Tu, que és livre, solitária, portadora dessa tristeza tão cálida, tão marcantemente tua e que adoravelmente Vinícius cantaria em Itapuã.
Deixo a ti, garota, o que de mais caro possuo. Deixo-te a terceira margem de meus versos. Deixo aos teus sabores toda lógica, todas as interpretações que se podem fazem.
E despido de qualquer axioma, procuro em teus olhos marejados de mar um instante de conforto, qualquer razão que me permita penetrar-lhe o semblante, essa alma que tu tens e que tanto me comove.
Por que olhais o mar dessa forma, garota linda? O que procuras no mar e desprezas tanto assim na terra? Qual é essa força inexorável contida nos teus olhos de sonhos e brilhos e que tanto me força a engastar as palavras?
Veja, garota, veja! Recebe minhas margens e as transponha com teus olhos infinitos. Quebre-as em outras mil paragens, outras tantas formas de amar.
Tu que estás aí tão longe e que sente o perfume dourado do sol, recebe este presente, garota, recebe minhas margens, este porto tão singelo, doce alento ao final de teus tormentos tão serenos.

Rafael Guerreiro

Minhas Filhas


Já não sei mais o que escrevo. Já não sei mais se é crônica, conto ou poema.
Tudo o que sei é que o mundo todo quer seu espaço no branco do papel.
E depois de tanto tempo sem escrever, percebo hoje como está difícil deixar que as ideias sejam livres.
Sim, depois de tanto tempo. Tanta coisa passou, quantas pessoas passaram, quanto sentimento foi e voltou. Sorrisos, choro, angústia, raiva, alegria, felicidade e tristeza, amor e ódio, antagonias do Alentejo.
Ah! Meu Deus, quantas ideias se perderam para sempre, quantos abortos sem nenhuma chance.
Queria eu podê-las reunir em uma mesa com a família e passar um momento calado enquanto todos riem a vida sem qualquer maldade.
E calado eu as deixaria ao sabor do vento dançando para mim. Elas seriam eu, um eu mais eu que eu mesmo, no silêncio do que se passa dentro dos olhares.
Eu, somente eu, sem vaidades nem trajes.

 
Rafael Guerreiro