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Pelas cidades que passamos, acabei por conhecer várias pessoas. Eram homens e mulheres que passavam pelas rodoviárias, indo e voltando dos mais variados lugares.
Alguns traziam no peito uma saudade antiga, uma tristeza das mais solitárias; outros saíam forçados de seus lares, tentando a vida do jeito que podiam. Mas todos, de certa forma, traziam consigo suas próprias lembranças. Eram narradores solitários que nunca esperaram por qualquer ouvinte interessado em suas histórias.
Quando regressávamos a Franca, passamos pela rodoviária de uma das muitas cidades que paramos. Eu estava cansado e faminto. Esperava ansioso o ônibus ainda incerto, pois no guichê da rodoviária, nos disseram que as passagens haviam se esgotado e, por isso, talvez não poderíamos chegar a Franca no mesmo dia. Mas mesmo assim, ficamos na madrugada esperando pela sorte.
Enquanto esperávamos, um viajante qualquer se aproximou. Tratava-se de um vendedor ambulante aguardando seu ônibus. Era da Bahia e trazia consigo uma enorme caixa de isopor equilibrada na cabeça e um violão junto ao ombro.
Num primeiro momento não dei conversa, mas, de súbito, passamos a conversar enquanto o ônibus demorava. Então, contou-me que já viajou por todo o Brasil, procurando as festas e jogos de maior calibre, onde se alojava tentando vender suas latinhas de bebida. Quando terminavam as festas e os jogos, juntava seus pertences e partia para outras paragens, em busca do sol.
Falou ainda que diante das muitas andanças que fazia, passou a colecionar os bilhetes das viagens. De tão exóticas e distantes - dizia ele - mereceram ser postas numa caixa bem guardada em sua casa.
Mas no meio do assunto, sem cerimônias, foi-se embora tomar o ônibus que acabara de chegar. É uma pena, porque ele se foi e não tive tempo de saber o porquê de carregar junto com tamanha caixa e peso um violão pendurado com custo junto ao ombro. Ora, se estava trabalhando, acredito que não teria muito tempo para tocar músicas, tão pouco apresentá-las ao público.
Foi-se embora e sumiu na multidão. Nunca saberei de fato o que pretendia com o violão. Resta-me apenas imaginar alguma coisa, um sentido para aquele instrumento.
Talvez pretendia trazer em seus tocares a lembrança de sua terra, quiçá um hino triste de sua sina de viajante. Poderia ainda ser o violão apenas um alívio que encontrou para suportar a solidão de tantos quartos estrangeiros pelos quais passou.
Mas não teve jeito. Foi-se embora deixando-me com a curiosidade aguçada e um sentimento inacabado.
Em minha memória, ficaram apenas uma caixa de bilhetes de viagem e a imagem do violão, que por certo ressoará melodias de lugares distantes, tocadas na toada triste do viajante em busca do sol.
Rafael Guerreiro
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