quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

DORES DE UM NOVO MUNDO

Não fiz palestra. Deitei ordem triste embaixo de raios de um sol ardido. Segurei o soluço num fluxo inverso e recitei um réquiem.
Mantive rumo certo sem desvio no olhar. Não olhei para trás. Era uma ilha desbravada que se perdia no ocaso.
Entre tremores tramou-se um trilho trépido de olhares marejados. Fiz pressa num caminho de momento, não podia permanecer ali, o tempo urge inóspito. A roda girou mais uma vez e num estalo gerou um passado sem precisão.
Dessa vez não houve gritos, cabeças baixas impediram revoltas. Consumado o presente, deitei passos largos e titubeados, sem vontade, mas com coragem e parti para a outra margem.
Deixei na ilha, a pedidos feitos em língua clara, todos os pertences que um dia foram meus por sentimento.
A correnteza pariu em mim dores e vicissitudes, mas criou de forma esquizofrênica uma tatuagem vermelha, de sangue rubro, de sangue apenas.
Esqueci casa, cartas, presentes e sentidos, parti rápido e sem memória para terras estrangeiras. Na correnteza, foi-se aos poucos esfarelando qualquer memória da ilha, que aos poucos ficava submersa na maré que a deglutia.
Ainda no mar, percebi que a ilha sumiu. Nada resiste ao encontro das águas.
Deixei para os escafandristas a missão de um dia encontrar casa, cartas e sentidos. Bati braçadas rumo a terras estrangeiras.




Rafael Guerreiro

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