Resolvi fumar encostado no muro. Eu fumava introspectivo, pensativo. Não havia ninguém por perto, exceto os carros. De repente, um homem descia a rua em sua bicicleta. Não me viu. Quando pude ouvi-lo percebi que ele imitava uma garotinha. Não entendi por que falava sozinho. Falava com voz fina, chata e enjoativa. Parecia que o homem brigava com a garotinha, porque ele fazia duas vozes estridentes, de certo uma para ele e outra para ela, ou as duas para elas, quem sabe? E, perdido em seus devaneios, passou rápido por um buraco na rua, quase caiu da bicicleta e soltou um grito duvidoso. Impossível não ter sido engraçado! Ri da cena...ri muito mesmo, sem entender!
O homem passou, foi embora discutindo com sua imaginação.
Parecia que discutiam em tons acalorados, e ele se defendia ironizando o que a garotinha falava.
De tudo, o mais engraçado foi ouvir ele dizer, com uma convicção enfurecida: "M-E-N-T-I-R-O-S-A!!!"
Rafael Guerreiro
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
terça-feira, 18 de setembro de 2007
ASPECTOS DO DIZÍVEL
Todos se ajuntam para formar a eclésia. Os cânticos transmitem paz, ressoam pelos ouvidos em auspiciosos tons metafísicos, parecem unir os desejos numa expressão do mundo de lá. Todos juntos, o ambiente é então flamado em suaves odores perfumados de incenso queimado aos poucos, em pequenas e delicadas brasas.
O silêncio reflete a comunhão com o mundo de lá. Uníssonos, os fiéis entram em suas mais íntimas reflexões. A fumaça branca, perfumada e leve sobe aos céus e se dissipa, leva consigo as preces e os sofrimentos de todos, embalados em serenos passos de dança. O incenso sobe, mas antes dança numa sintonia doce e enigmática.
Expressões, visões, revelações, sofrimentos do povo simples, alegrias sinceras de corações humildes, olhos atentos e corações batendo por sentimentos nobres, tudo se comunica e se eleva aos céus pelos trilhos do místico incenso branco e perfumado.
O mundo de lá parece nos chamar, quer dizer algo. Parece que alguém vela por todos. Parece, por sensações de fé e paz, que tudo se encerra no amor e na crença.
Rafael Guerreiro
O silêncio reflete a comunhão com o mundo de lá. Uníssonos, os fiéis entram em suas mais íntimas reflexões. A fumaça branca, perfumada e leve sobe aos céus e se dissipa, leva consigo as preces e os sofrimentos de todos, embalados em serenos passos de dança. O incenso sobe, mas antes dança numa sintonia doce e enigmática.
Expressões, visões, revelações, sofrimentos do povo simples, alegrias sinceras de corações humildes, olhos atentos e corações batendo por sentimentos nobres, tudo se comunica e se eleva aos céus pelos trilhos do místico incenso branco e perfumado.
O mundo de lá parece nos chamar, quer dizer algo. Parece que alguém vela por todos. Parece, por sensações de fé e paz, que tudo se encerra no amor e na crença.
Rafael Guerreiro
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
OS NÔMADES DE MINHA CASA
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Pela janela do quarto observo as árvores e por elas enxergo o movimento do vento. Venta forte, parece que algo quer se comunicar, ser solidário. O vento é forte e sem norte. Deixo muitas lembranças à deriva, remexidas a esmo por mim. Lembro-me, então, do primeiro encontro. Lembras também? Lembro-me das sensações e da expectativa. Lembro-me de como fora belo o primeiro beijo e os outros que até hoje vêm.
São lembranças ciganas, trazidas de tempos em tempos pelos ventos memoriais. Às vezes param e estabelecem morada, às vezes querem trocar presentes e depois apenas seguir viagem. Não têm rumo, apenas existem e buscam um lar, umas mais próximas, outras mais distantes, mas todas aparecem de tempos em tempos.
Venta forte em meu espírito. A sensação é de vida e movimento, mas as lembranças apresentam-se como brisas suaves da praia de Itapuã. Quando retornam de suas viagens quero conhecê-las de novo, mais aprofundadamente, por outros ângulos. Troco presentes e experiências, aprendo seu idioma estrangeiro e a cultura que trazem consigo.
Quando do encontro delas comigo, trago sempre muitos interesses e não me abstenho de um bom café cigano. São por demais desconfiadas, se não tratá-las com o devido respeito passam despercebidas e o mundo torna-se cinza.
Às vezes, quando me sinto sozinho, tenho a sensação de que alguém está a espreita e que me observa com olhos de quem me conhece. São os ciganos de minha memória e querem me visitar. Quando estão por perto o vento se agita e sei que algo virá à tona.
Rafael Guerreiro
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
AQUARELA
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Tudo que tenho são expressões do meu amor. E como tudo se transforma em entusiasmo! Sim, diante desse sentimento, segurança e complexidade regem o tom de minha idiossincrasia. Não há formas exatas, tudo é etéreo, tudo é espírito. Por de trás das aparências, incenso e metafísica. Por de trás dos corpos quentes e molhados, o movimento e a dança. Adoro acreditar que o amor é movimento, como a fumaça do incenso que brota branca, breve em brincos brilhantes e delicados. O incenso se eleva perfumado e alcança os céus. Eleva ao mais alto o desejo mais sincero. Leva consigo as aspirações mais abstratas e os sonhos mais íntimos.
Parece que as sensações se comunicam com o mundo de lá em leves e tênues oferendas dadas pelo homem aos deuses. O amor causa coisas como essas, é tão grande que não se contém, faz com que precisemos nos comunicar, dizer para o mundo de lá que as coisas por aqui são lindas e que se movimentam.
Então, acendo uma vela e faço a prece. O fogo fascina e o incenso eleva o fascínio, o comunica. O espírito se acalma, sente-se em harmonia. Em movimento, o amor, por de trás de todos os atos, formula toques, gestos e carícias azuis e róseas que culminam em contrações e palavras brancas, inexoravelmente puras. Cada gesto com sua cor sincera junta-se a outro e outro e mais outro formando um movimento único, branco e brilhante, apenas visível no encontro mágico dos corpos feitos um para o outro.
Rafael Guerreiro
Parece que as sensações se comunicam com o mundo de lá em leves e tênues oferendas dadas pelo homem aos deuses. O amor causa coisas como essas, é tão grande que não se contém, faz com que precisemos nos comunicar, dizer para o mundo de lá que as coisas por aqui são lindas e que se movimentam.
Então, acendo uma vela e faço a prece. O fogo fascina e o incenso eleva o fascínio, o comunica. O espírito se acalma, sente-se em harmonia. Em movimento, o amor, por de trás de todos os atos, formula toques, gestos e carícias azuis e róseas que culminam em contrações e palavras brancas, inexoravelmente puras. Cada gesto com sua cor sincera junta-se a outro e outro e mais outro formando um movimento único, branco e brilhante, apenas visível no encontro mágico dos corpos feitos um para o outro.
Rafael Guerreiro
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